quarta-feira, 30 de maio de 2012

Finalmente com chance de apresentar a todos um resumo dos debates que ocorreram na última oficina do L'ArCA, com uma apresentação dos dois primeiros atos da ópera-rock Acrópolis seguidos de uma discussão com os presentes, com o objetivo de contribuir para compormos conjuntamente o final da peça.

Segue uma parte do vídeo que esteve no show, seguido de sugestões apresentadas no debate,  intercaladas pelas imagens iniciais dessa grande ópera-rock interativa, que ainda tem um último ato para ser finalizada. Esperamos que todos vocês possam contribuir com ideias para essa e as outras obras criadas nas oficinas do L'ArCA!!

Abraços!

Vitor


Informações sobre vídeo, o evento e a ópera rock


Acropolis - Uma Opera Rock Futurista Interativa

Faixa 01: Acorde Acrópolis

Edição, ilustrações, direção: Fabricio Bonni
Vozes e Arranjos: L'arca
Produção Musical : Fabricio Bonni

Realizado pelo Laboratório de Arte e Cidadania Ativa (L'ArCA) na II Conferência Internacional - Moedas Criativas, Fronteiras do Valor na Economia da Cultura; no Museu da Imagem e do Som nos dias 29/04, 30/04 e 01/05 de 2012.

O evento todo trata do tema da economia criativa em três facetas: uma teórica, uma prática e outra lúdica. http://www.iconomia.org/moedascriativas/

Patrocinadores: BNDES, AMD Foundation, Comissão Européia, Purebros, UOL Jogos, Pague Seguro e Boa Compra;
Apoio: Games for Change, Grupos de Pesquisa Iconomia, PGT, IONS, L'ArCA e DIVERSITAS;
Realização: Grupo de Pesquisa Cidade do Conhecimento Universidade de São Paulo;
Curador: Gilson Schwartz.

Participantes da Oficina:
Vitor Blotta Coordenador e "Ministro da Liberdade"
Fabrício Bonni Músico, produtor, violões e voz no show
Daniel Andrade: percussão e voz no show
Davi de Freitas Intervenção teatrais
Gabi Winter Intervenções teatrais

E público do Evento


Acrópolis projeta a história para 100 anos no futuro, no momento em que uma nova ordem social aparentemente perfeita passa a mostrar suas contradições. A cidade é invadida pelo Movimento dos Sem Talento, o Movimento dos Sem Conhecimento e o Movimento dos Sem Alegria, formados por seres que usam e recebem de modo desigual as moedas criativas Talento, Saber e Alegria. Representantes dos movimentos participarão de uma assembléia para decidir junto aos Ministérios da República e os Públicos o Destino de Acrópolis.




Mais Números musicais
Talvez mais diálogos e narrativas
Valorizar o talento do outro. Narrar quando uma pessoa que aparentemente nao o tem, mas que quando recebe o foco, ressalta seu talento
3o. Movimentos e Ministérios descrevem um mundo onde as contradições permanecem. Mostrar situações dramáticas. Momentos em que pessoas nao tem voz, nem vez, ou conhecimento certificado
O personagem de um ermitão, que desenterrou emails de um servidor enterrado, vem denunciar o caminho errado tomado, resgatou o problema
O problema eh que essas moedas nao certificam outras atitudes que nao o talento, a alegria e o pensar.
Como então gerar valor a partir da tristeza?
Demandas por um Ministério da Tristeza, ou outros
Ou os Ministérios se declaram incompetentes.
Sem judiciário, sem executivo e sem legislativo.
Então, por isso devera ser uma recriação de um tribunal. Tudo como um tribunal e um julgamento de fato deveriam ser?
Mas nao se sabe qual seria a moeda da Justiça. Alias, e impossível saber isso, então nao eh fácil definir o que eh talento, saber ou alegria. A situação eh de perplexidade. O resultado eh que o sistema eh sempre falho. Será este o melhor desfeche?
Ou descobre-se que seria necessário então fazer ajustes regulares no sistema.

Incorporar falas que evidenciam conflitos
Conexões entre os movimentos e ministérios.
Algo nunca será fechado. Ermitão e uma criança?
Conceitos são outros.
Revisões periódicas entre os movimentos e ministérios
Danças circulares sagradas, em espiral, nao circulo, como método.
Esquecer moedas e dinheiro. Daqui pra frente so serão fluxos, gradientes. Garantir a legitimidade da diferença.
O que eh alegria para quem, deve ser dito pela própria pessoa.
Pensar no local, com cadeiras, com interação, movimento. Nao da pra ficar sentado.
O outro diz para o movimento que ele tem talento, ou nao, mas isso pode mudar.

Ocorre troca de papeis. Desejos trocas de moedas. O publico se aproxima rastejante e quer isso, tenta se aproximar e quase derrete em direção ao palco. Dar iluminação a quem nao tem luz sobre ele refletida.  Isso pode representar o valor do outro.

Nao deve haver muita repetição, talvez no estilo de som. Eh preciso multidões. Eh preciso saber o que se Poe e o que se tira, moedas criativas ou nao, movimentos, ministérios, mas tem que mostrar o conflito.
Teatro do absurdo, Criar confusão do ônibus.
Teatro Oficina, mostrar o conflito.
Pessoas do publico tem que interagir. A trilha nao pode ficar muito na cadencia.  Mais altos e baixos.
Grupo em São Paulo. Os Fofos. Fazer contato. Pesquisa e cooperação. Peca ~Historias de Assombrações nas Ruas do Recife~
Pensar nas reações dos públicos, adolescentes, crianças, com capacidade e tratados como tais. As pecas podem ser multisensoriais.
Repensar ou manter a estrutura do rock, ou intercala-la com outras musicas.

Contato com Fernando Neves (fofos)
Fica na frente do Oficina
Ler Darcy Ribeiro. “Utopia Selvagem”. Quadro Sinótico. Os ministérios se tornam conselhos populares.

Pensar na cadencia da narrativa. Jornada do herói da moeda, por exemplo.
Pode haver uma crise, antes do julgamento, como se estivesse em curso a pena de morte e uma pessoa estivesse prestes de ser executado, quando o herói entre em cena, ou algo inesperado acontece.

Uma crise, ameaça. Mas alguém da Cidade do Conhecimento recupera uma verdade perdida, e durante o julgamento interrompe tudo. Assim podem ser trabalhados os elementos de tragédia e resolução.
Ser mais radical nas letras, no fundamento. Sem mais claro nas letras e no fundamento.
Quais são as outras Acropolis?
Pensar no espaço, na formação do espaço cênico.
Transformar a peca em uma experiência nao linear que ocorre no espaço do museu.
Pensar na questão da apatia, do conformismo, e o que tira as pessoas disso.
Referencia: the non smoking band

Recurso. Crise e desfecho. Dinâmica da crise deve ser pensada, e o baque precisa ser dado, com intensidade.
Pode se fazer a personificação de uma historia, como com os movimentos. Pode ser no próprio desfecho.
Prazer de um pode nao ser o prazer do outro, e nem eh possível saber o que eh o justo. Eh impossível saber a verdade, mas podemos reconhecer a mentira. Então o crime Maximo poderia dizer a mentira.

As pessoas estão pedindo para serem tocadas, emoção, conflito, pegada de tocar, que eh mais estomago que cabeça. Deve-se quebrar o didático e ir para o conflito.
E pensando em como tornar a opera rock também em texto, com situação dramática.
A tecnologia e os bens são valorizados e utilizados, com interatividade e gamificacao da peca. SMS, votação, enquete. Boletim com os diversos.
Fazer boletim com diversos anúncios. Investir na infra-estrutura tecnológica, tempo real gamificado.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Acrópolis, video teaser da ópera rock interativa do projeto Moedas Criativas

http://youtu.be/EW4OCtkiruk
Video Teaser da Opera-rock Acrópolis, a primeira ópera-rock interativa já criada!
Paródia do projeto de economia criativa Moedas Criativas, concebida pelo Laboratório de Arte e Cidadania Ativa (L'ArCA http://www.artecidadaniativa.blogspot.com/), Acrópolis projeta a história para 100 anos no futuro, no momento em que uma nova ordem social aparentemente perfeita passa a mostrar suas contradições. A cidade é invadida pelo Movimento dos Sem Talento, o Movimento dos Sem Conhecimento e o Movimento dos Sem Alegria, formados por seres que usam e recebem de modo desigual as moedas criativas Talento, Saber e Alegria. Representantes dos movimentos participarão de uma assembléia para decidir junto aos Ministérios da República e os Públicos o Destino de Acrópolis. Confira a apresentação da ópera-rock e a oficina de criação coletiva para compor seu terceiro e último ato no dia 30 de abril de 2012, no Museu de Imagem e Som, em São Paulo, no evento Moedas Criativas: fronteiras do valor na Iconomia. Mais infs. www.iconomia.org/moedascriativas
Abraços e até lá!
Vitor Blotta (Coordenador. L'ArCA)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

MOEDAS CRIATIVAS II

Caros,

Tenho o prazer de lhes convidar para o evento Moedas Criativas. Fronteiras do Valor na Iconomia, organizado pelo grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento (ECA-USP), a se realizar dos dias 29 e 30 de abril e 1o. de maio no Museu da Imagem e Som em São Paulo.

O evento trata do tema da economia criativa em três facetas: uma teórica, uma prática e outra lúdica. Terá a presença de grandes especialistas, como o prof. Tércio Sampaio Ferraz Júnior, em temas que envolvem novas tecnologias de informação e comunicação e seus impactos sobre a economia e suas possíveis formas de regulação, com vistas à realização de valores humanitários em tempos de globalização.
Farei a mediação de uma mesa de debates na tarde do dia 30 e coordenarei uma oficina musical e teatral do L'ArCA no mesmo dia. (v. programa completo abaixo).

Programa e inscrições no link: http://www.iconomia.or%20g/moedascriativas/2012/01/04/hello-world/ Há um limite de 150 inscrições, então faça a sua o quanto antes. Também haverá transmissão online.

Será um prazer tê-los conosco no evento!

Abraços a todos

Vitor Blotta
Pesquisador. Núcleo de Estudos da Violência da USP
Secretário-Adjunto Associação Nacional de Direitos Humanos - Pesquisa e Pós-Graduação
Tel: 11 30910613

 

II Conferência Internacional no MIS

Moedas Criativas
Fronteiras do Valor na Iconomia
 Museu da Imagem e do Som
29-30 de abril, 1º de maio – 2012
 Programa
29 de abril
Pensar
9h30m
Abertura Solene e Capoeira com o Toque do Mestre Alcides (CEACA, USP)
10 horas
Moeda, cultura e tecnologia: da Pipa ao Rio de Janeiro
História e perspectivas do projeto “Moedas Criativas” na Cidade do Conhecimento
Há dez anos, o projeto Cidade do Conhecimento implementava um projeto-piloto de moedas criativas na Praia da Pipa (RN). As principais etapas do projeto, seu modelo de inovação e sustentabilidade e a criação do FMI (Fundo de Moedas Imaginárias) serão os temas apresentados e debatidos do ponto de vista teórico, tecnológico e social tendo como horizonte a escolha do projeto “Moedas Criativas” como uma das 20 provocações patrocinadas pela UNESCO na Rio+20. A proposta de instalação do FMI no Museu da Imagem e do Som (MIS) será detalhada, com tempo para manifestações de parceiros e patrocinadores do projeto e discussão pública de seu futuro.
Gilson Schwartz, CTR-ECA, Cidade do Conhecimento, Iconomia e PGT (USP)
Heloisa Primavera, Universidade de Buenos Aires
Guilherme Ary Plonski, PGT, FEA, POLI e Cidade do Conhecimento (USP)
Moderação: Fabio Nunes, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, Escola de Comunicações e Artes (USP)
 A sessão será encerrada às 12h30m, com intervalo de 30 minutos às 11 horas.
15 horas
Mundos e Fundos: Games, Redes Virtuais e Fronteiras do Valor na Iconomia
Teorias, antropologias e filosofias da criação de valor, do dinheiro e da riqueza
 Economia da cultura, wikinomics, economia criativa, economia da informação e sociedade do conhecimento, indústrias criativas ou sociedade do espetáculo, gamification do marketing e monetização em redes abertas: os conceitos usados para descrever as inovações e os impactos da cultura digital na produção, distribuição, consumo e financiamento de conteúdos renovam-se continuamente. Em que elementos e circuitos da vida a existência das moedas, criativas ou não, age? Que efeitos elas têm sobre as pessoas e os coletivos? É possível tomar decisões e encontrar espaços e tempos para projetos emancipatórios nessas redes colaborativas e competitivas, mais ou menos abertas? O século 21 será a expressão dessa iconomia? Quais as fronteiras do pensamento quando surgem objetos como os ícones, feitos de imagens, conteúdos, nuvens, entretenimento e sensores? O design do ícone “moeda” como um “game” pode mudar o mundo?Novas moedas podem contribuir par a acelerar a distribuição da Felicidade Interna Bruta (FIB)? Quais as inovações necessárias para dar sustentabilidade à produção cultural, audiovisual e criativa no Brasil e no mundo? É possível criar mundos e fundos?
Júlio Moraes Lucchesi, Grupo de Pesquisa Iconomia e Assistente Acadêmico da disciplina “Economia do Audiovisual Internacional” (EAI, CTR-ECA-USP), Doutorando na Faculdade de Filosofia, História e Ciências Humanas (FFLCH-USP)
Diego Viana, Repórter do Jornal Valor Econômico
Leonardo Brant, Líder do projeto Empreendedores Criativos, criador do blog Cultura e Mercado
Jeremiah Spence, Journal of Virtual Worlds Research
Claudio Sassaki, MangoLab e Geeki
Martin Restrepo, Editacuja e MEL
Moderação: Francisco Tupy, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, Escola de Comunicações e Artes (USP)
A sessão será encerrada às 17h30m, com intervalo de 30 minutos às 16h30m.
17h30m          Intervalo
18 horas
Valor, Criatividade e Violência da Moeda: Educação, Mídia e Desenvolvimento
Práticas pedagógicas para superar as fronteiras entre a sala de aula e a escola da vida
O dinheiro é meio de pagamento, acesso e investimento, mas o outro lado da moeda é a desvalorização do que não é material e imediato, a multiplicação das formas de exclusão e o agravamento nas condições de oferta de bens públicos, serviços sem fins lucrativos e inovações em áreas emergentes e criativas. É possível brincar com a violência da moeda? Como ficam os serviços de educação e os desafios da aprendizagem contínua ao longo da vida numa sociedade como a brasileira em que o intangível, o patrimônio imaterial e a valorização da cultura, da informação e do conhecimento ainda estão em estágios muito primários e ainda assim frágeis de desenvolvimento? É possível criar práticas pedagógicas que se apropriem de novas tecnologias para reeducar nossas sensibilidades para a diversidade das escalas de valores, projetos e desejos? Há gozo além do consumismo? Como a escola vai lidar com o fetiche da própria tecnologia? As redes digitais p odem reinventar uma educação com menos muros, grades e controles entre a sala de aula, a escola, a família, a comunidade e a vida?Educação tem fim?
Leny Magalhaes Mrech, Faculdade de Educação (USP)
José Roberto Amazonas, Escola Politécnica (USP)
Edison Spina, Escola Politécnica (USP)
Márcia Ribeiro, Bibliotecária-Chefe, Universidade de Taubaté (UNITAU), Líder do projeto “LIGAÇÃO” (Literatura Infantojuvenil, Games e Artes em Ação)
Maria Helena Morgani de Almeida, Curso de Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina (USP), Consultora do projeto “Terceira Idade” (REID-CNPq)
Fernando Dias, CEO da Purebros
Moderação: Thais Barros, pesquisadora da Cidade do Conhecimento, Mestre em Ciências pela Escola de Comunicações e Artes (USP) e Consultora Pedagógica da rede “Conflitos Globais” e da pesquisa “TIC – Educação” (CETIC.br)
20 horas – Encerramento do Primeiro Dia – Relatores do Pensar
30 de abril
Fazer
10 horas
Moeda, tecnologia e democracia: fronteiras entre economia solidária e cultura
Casos, relatos e perspectivas tecnológicas da inovação monetária sustentável
Nos últimos anos, moedas sociais, bancos comunitários, redes de compras, modelos inovadores de “crowdsourcing”, “crowdfunding” e flexibilização de regimes e direitos de propriedade intelectual abriram espaço para inovações no marketing, na atuação do terceiro setor, no desenvolvimento da cadeia de produção, distribuição, consumo e financiamento aos setores de entretenimento, artes, comunicação social e turismo. Nessa manhã do segundo dia serão apresentados relatos, depoimentos e analisados casos concretos e políticas públicas com foco na aproximação entre inclusão social, cultura da paz, sustentabilidade ambiental e novas práticas de organização econômica, social e política mais abertas, sustentadas pelo vetor transversal de desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação (TICs). A rede “Games for Change”, a formação das políticas de inclusão digital e cultural, a promoção do empreendedorismo inovador e as pol íticas de digitalização e regulação dos meios de comunicação em escala internacional serão apresentados e avaliados. Como o entretenimento estimula e funciona como base do desenvolvimento humano? Quais os resultados obtidos no Brasil, nos últimos dez anos, nas políticas de inclusão social, digital e cultural?Quais os desafios para não perder o bonde da globalização digital?
Gilson Schwartz, CTR-ECA, Cidade do Conhecimento, Iconomia e PGT (USP)
Heloisa Primavera, Universidade de Buenos Aires
Guilherme Ary Plonski, PGT, FEA, POLI e Cidade do Conhecimento (USP)
Ana Laura Castro, It´s Noon
Jacqui Dunne, Autora com Bernard Lietaer de Rethinking Money: How New Currencies turn Scarcity into Prosperity (Berrett-Koehler, São Francisco, 2013), founder e CEO da rede “Entrepreneurs without Borders”.
Tercio Sampaio Ferraz, Faculdade de Direito (USP)
Moderação: Sônia Paschoal, Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, Escola de Comunicações e Artes (USP)
A sessão será encerrada às 12h30m, com intervalo de 30 minutos às 11 horas.
15 horas
Fronteiras Digitais do Estado de Direito: Agendas, Políticas e Garantias na Crise
Ameaças e desafios em programas das áreas social, educacional, cultural e ambiental
As áreas sociais, fundamento e essência de uma sociedade criativa e livre, estão entre as primeiras a sofrer cortes nos processos tradicionais de ajuste fiscal a crises globais e nacionais. São também alvos preferenciais, pela escala e volume de recursos envolvidos nas políticas públicas, de desvios de recursos, desperdícios e insuficiência de meios tecnológicos, de inteligência cívica e financiamento de longo prazo. É possível redesenhar o sistema financeiro global e os sistemas financeiros regionais e nacionais, após a crise da globalização especulativa, preservando e até ampliando a eficácia e o alcance das políticas educacionais, sociais e ambientais por meio de interfaces digitais? Qual o novo papel do Estado num momento de radicalização das pressões setoriais por fundos públicos, salvaguardas de direitos e proteção aos elos mais frágeis da reprodução social em escala planetária? O retorno do Estado ameaça a liberdade ou vai emergir um “paternalismo libertário”? Políticas públicas em áreas sociais e de comunicação podem alterar o perfil de direitos e acesso da população aos novos meios, conteúdos e oportunidades de desenvolvimento humano e econômico?
André Barbosa, Superintendente de Suporte, Empresa Brasileira de Comunicação
Zilda Iokoi, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação e Núcleo de Pesquisa sobre Diversidade, Intolerâncias e Conflitos – DIVERSITAS da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH (USP)
Maristela Basso, Faculdade de Direito (USP)
Juliana Toledo, Coelho e Morello Advogados
Estebán Clua, Presidente da SBGames
Eduardo Fagnani, Instituto de Economia (UNICAMP)
Moderação: Vitor Blotta, Doutorando pela Faculdade de Direito da USP, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência e da Cidade do Conhecimento (USP)
A sessão será encerrada às 17h30m, com intervalo de 30 minutos às 16h30m.
 18 horas
 A Criação Monetária e a Origem da Tragédia
Passagens entre pensar/ fazer e fantasiar/brincar na gênese dos valores e da moral
Oficina de dramaturgia e música para criação coletiva da obra teatral aberta “Acropolis”, uma ópera rock futurista com a mediação do Laboratorio de arte e cidadania ativa (L’ArCA) e coordenação de Vitor Blotta e Fabricio Bonni.

20 horas – Encerramento do Segundo Dia – Relatores do Fazer
 1º de Maio
Brincar
Dia do Trabalhador Criativo
Lançamento do FMI – Fundo de Moedas Imaginárias da i.co.no.m.i.a.
Games for Change: LABMIS (oficinas)
Nos dias 29-30 de abril e 1o de Maio haverá oficinas práticas e demos de games desenvolvidos para uso na educação e em redes sociais (manhã e tarde).
Bispo de Taubaté: universo de mágicas e quebra-cabeças eternos, no lobby do MIS
i.co.no.m.i.a
Pitching de projetos e relatos de anjos de projetos na i.co.no.m.i.a – incubadora de conteúdos em novas mídias e infra-estrutura audiovisual, com a participação de Marcelo Tas, Jorge Forbes, Diego Viana, Gilson Schwartz, Heloisa Primavera, Guilherme Ary Plonski, Julio Moraes Lucchesi, Leonardo Brant, Claudio Sassaki e Fernando Dias.
Participação Especial: Trio Tamoyo
Início: 10 horas
Encerramento: 12 horas.

Patrocinadores
 BNDES, AMD Foundation, Games for Change, UNESCO, Purebros
 Apoio: UOL Jogos, PRO-IDEAL (Comissão Européia)
Iniciativa
Games for Change
Apoio dos Grupos de Pesquisa
Cidade do Conhecimento, Iconomia, PGT e DIVERSITAS
(Universidade de São Paulo)

terça-feira, 12 de abril de 2011

As Músicas de Acrópolis. 1o. Ato. Os Movimentos


Car@s,

Tenho o grande prazer de apresentar as músicas do 1o. Ato de nossa grande ópera rock Acrópolis, ainda em processo de construção coletiva por meio das oficinas e encontros dos L'ArCA. O primeiro ato, Os Movimentos, inicia-se pela música Acorde Acrópolis, seguida de três outras músicas que representam as manifestações de cada movimento social na Audiência Geral de Acrópolis: Movimento dos Sem Talento, Movimento dos Sem Conhecimento e Movimento dos Sem Alegria, como anunciado no jornal Acropolitan, em edição fictícia do dia 26/03/2111, no dia da oficina 26/03/2011 na USP. Com as canções iniciais desta peça-musical que estamos criando, convidamos todos a embarcar nesta viagem possível para o futuro e colaborar conosco a decidir o destino a Acrópolis aqui, nas próximas oficinas e encontros ou discussões do L'ArCA, transformando-a efetivamente num espetáculo a ser apresentado em grandes teatros e espaços culturais de São Paulo e do Brasil!


01 - Acorde Acr ópolis

http://listen.grooveshark.com/s/01+Acorda+Acr+polis/3FWw5E?src=5


02 - Movimento do sem talento



03 - Movimento dos sem Alegria



04 - Movimento dos sem Conhecimento




Aguardem o primeiro vídeo de Acrópolis e outro dedicado ao nosso Laboratório!

Esperamos comentários, críticas, sugestões, colaborações...

Boa VIAGEM!

Abraços,

Vitor Blotta

terça-feira, 29 de março de 2011

Resultados Preliminares Oficina na USP

Car@s,

A oficina realizada na ECA-USP foi um grande desafio para o L'ArCA, mas também um momento de muito aprendizado e esforço coletivo. Seus primeiros frutos começam ser apresentados neste post. Com a presença de amigos próximos participando, debatemos concentradamente sobre os temas que envolvem o Laboratório, o evento Mesh com Moedas Criativas e a continuidade história de Acrópolis, a "Cidade Criativa" que representaria o mundo daqui a 100 anos; um mundo aparentemente perfeito, mas agora questionado por novos movimentos sociais.
Apesar de termos por meta traçar todos acontecimentos da Grande Audiência Geral que debateria a crise em Acrópolis e proporia soluções, conseguimos somente iniciar o primeiro ato, esboçando as reivindicações do primeiro movimento social: o MSC, Movimento dos Sem Conhecimento, representado pelo Homem In-formação. Com base nesse esforço inicial, no entanto, já elaboramos as reivindicações dos outros dois movimentos, o MST (Movimento dos Sem Talento, que será representado por Homens/Mulheres-máquina) e o MSA (Movimentos dos Sem Alegria, a ser representado por Homens/Mulheres Semi-Vivo[a]s).
Refletimos muito sobre os resultados e dificuldades de realização do que havíamos nos proposto produzir, e acabamos entendendo melhor seu sentido. Isso deverá influenciar as próximas oficinas.
Com esse trabalho exigiu um esforço criativo para a proposição de problemas e propostas para sua resolução, diferentemente de interpretarmos um problema dado, como na oficina anterior (Agressões aos Emos), a apresentação inicial deveria ter focado menos numa interpretação crítica de fatos do que na pluralidade de valores e concepções de justiça dos participantes e sua capacidade de propor resoluções de conflito por meio da arte. Além disso, ficou clara a necessidade de trabalharmos outros métodos de produção criativa dentro da própria dinâmica, como aquecimentos lúdicos, exercícios de escrita criativa, mapas mentais, associação livre, psicodrama e maior controle do tempo, com os quais os grupos possam se sentir mais estimulados e otimizar sua produção artística.
Decidimos trabalhar daqui para frente com três tipos diferentes de oficina, cada uma com três objetos distintos: notícias atuais prontas ("com a injustiça já dada"), temas fictícios ou reais para prospostas de resolução de conflito (com novos métodos dependendo do objeto) e releituras de obras de ficção (especialmente literatura). Para o sucesso dos processos criativos das oficinas, cada um desses objetos demandará métodos diferenciados de abordagem, preparação e criação.
Aguardem os vídeos desta última oficina e de uma oficina de 2008, com áudios mais completos de nossas histórias recriadas. Eles representam junto com os resultados literário-visuais as manifestações artísticas que compõem a Plataforma de Expressão Pública do L'ArCA!

Em breve publicaremos os primeiros vídeos do início da peça-musical que iniciamos nesta última oficina, A Lenda de Acrópolis, que pretendemos continuar a criar nas próximas oficinas e em discussões com contribuições aqui no blog. Abaixo vão as primeiras imagens e letras do 1o. Ato da Peça: Os Movimentos. Opine, critique, colabore; precisamos de parceiros artistas, pensadores, roteiristas, dramaturgos, atores, músicos etc para se juntar ao Laboratório de Arte e Cidadania Ativa. Ajude-nos a decidir o destino de Acrópolis e tornar sua Lenda uma grande peça-musical.

EMBARCA NO L'ArCA!!

Abraços do Vitor









quarta-feira, 23 de março de 2011

Oficina 26/03 do L'ArCA. Roteiro e Tema-Provocação. O mundo daqui a 100 anos

Com o objetivo de dar início às reflexões para nossa oficina deste sábado, dia 26/03, na ECA-USP (prédio de Rádio TV, auditório CTR-B, das 8:30hs - 12hs), publicamos aqui antecipadamente o roteiro da oficina, seguido do tema-provocação, que nos projeta 100 anos no futuro para que pensemos como lidar com as ambiguidades que até mesmo nossos sonhos realizados podem trazer.

Esperamos todos lá!

Abraços, Vitor Blotta


L’ArCA
Laboratório de Arte e Cidadania Ativa
Mini-curso e oficina: Metodologias Alternativas para Educação em Direitos Humanos
Evento: Mesh com Moedas Criativas. Fronteiras do Valor na Economia do Conhecimento. Universidade de São Paulo, 26 de março de 2011.
Site do evento: http://www.cidade.usp.br/blog/moedas-criativas-na-cidade-do-conhecimento/
Roteiro
1. Explicação do mini-curso/oficina e seus fundamentos (da epistemologia crítica à pluralização das visões de mundo); apresentação dos facilitadores e das bases do laboratório e interações iniciais com os participantes
25 minutos
2. Apresentação artística que exemplifica o que será feito na oficina – música: Amor de Banda Larga
10 minutos
3. Continuação da explicação dos fundamentos da oficina – da (arte, cidadania ativa e direitos humanos)
10 minutos
4. Apresentação artística que exemplifica o que será feito na oficina – música: Música Livre
10 minutos
3. Apresentação técnica da oficina, apresentação do tema e primeira discussão com os participantes. Organização dos grupos e preparações para a oficina.
35 minutos.

Intervalo

3. Aquecimento com facilitadores e posicionamento nas bases
4. Oficina – atividades de improvisação, criação, provocação, organização e produção da música-teatral que aborda de modo final o tema.
3. Finalização da música-teatral/teatro-musical
45 minutos.

4. Apresentação final
5. Breve discussão final. Relatos.
6. Gravação de arquivos de áudio em pen-drives dos participantes da oficina e envio para emails.
45 minutos.
O tempo total do mini-curso/oficina é de três horas

Tema-provocação oficina dia 26/03

Acropolitan (Portuguese version)
Acrópolis, República das Américas Unidas, 26 de março de 2111.

ELES TERÃO QUE NOS OUVIR!!!
Protestos contra políticas dos Ministérios da República mobilizam 150 mil no centro de Acrópolis, em mais um dia de greves generalizadas. Audiência Geral é convocada para amanhã.
(Da Redação)
      
       O centro de Acrópolis foi novamente tomado por uma multidão organizada de em torno de 150 mil pessoas na tarde de ontem, o que constitui metade da população de nossa grande “Capital da Criatividade”. Os protestos se iniciaram desta vez ao meio-dia e só cessaram às 18 horas, quando os representantes dos três movimentos sociais presentes foram finalmente recebidos pela delegação do Ministério da Liberdade para apresentar suas reivindicações. Em função da urgência do caso, já que greves generalizadas nitidamente “pararam” pela primeira vez a cidade desde o início desta semana, o Ministério da Liberdade convocou uma Audiência Geral para amanhã, no Acroteatro do Paço dos Ministérios, também ao meio-dia, em sessão aberta ao público.
       Na ocasião, conforme as regras típicas da Audiência Geral, o mecanismo mais democrático criado pela Constituição da Nova República para a resolução de graves e urgentes conflitos sociais, serão ouvidos os representantes de cada um dos movimentos, seguidos de manifestações dos Quatro Ministérios da República das Américas Unidas: o Ministério da Liberdade, o Ministério do Conhecimento, o Ministério da Interatividade e o Ministério das Artes. Em seguida, serão realizados os debates e deliberações livres.
       A Audiência Geral orienta seus procedimentos pelo critério da unanimidade plural, isto é, deve-se buscar um consenso est-ético, que se projeta em expressões artísticas derivadas do encontro de valores, experiências de aprendizado e posições de todos os presentes que interagem livre e espontaneamente na audiência. É desse consenso que deverão surgir as ações imediatas a serem tomadas para aplacar a crise e restaurar a continuidade da integração social na República das Américas Unidas. Resta estar presente para conferir e, como não, também participar.

ANÁLISE
Passado, presente e futuro da “Cidade Criativa”
Por Roberto Kreis
(especial para o Acropolitan)

     Acrópolis também tem suas contradições. Fundada no ápice da Reconstrução Gloriosa, restauração planetária que ergueu a República das Américas Unidas dos escombros dos continentes americanos pós-Dia Z especialmente por meio de atos de solidariedade, cooperativismo, diálogo, respeito e cuidado recíproco entre os sobreviventes da tragédia da qual sempre evitamos falar, Acrópolis inegavelmente simboliza a filosofia da Nova República mais do que qualquer outra Simples Cidade fundada até agora nesse lado do planeta.
     Não se pode negar que a alcunha “Cidade Criativa” sempre foi modesta para designar o que representou Acrópolis para a Nova República, pois ela permitiu que passássemos a fazer frente à Confederação Indo-Asiática, compondo a nova configuração bipolar do poder que se estruturou no planeta pós-Dia Z e vigora até os dias de hoje.
     Mas o que tem sido para nós um novo estágio de evolução da humanidade, com a transformação dos campos da economia em Iconomia, da política em Interatividade Democrática e da cultura em Arte e Expressividade na República das Américas Unidas, começa a mostrar também suas fissuras e ambigüidades no final deste primeiro decênio de século.
     A radicalização do fenômeno de desdiferenciação das esferas de integração social e da consciência humana que o mundo pós-moderno experienciou no período pré-Dia Z, ganhou com a Reconstrução Gloriosa finalmente uma possibilidade de se tornar normativa e auto-reflexiva ao mesmo tempo, atingindo as mentes e os corações de todos os coamericos residentes de cada uma das Simples Cidades da República - províncias de desenvolvimento inteligente, da qual Acrópolis é a maior e mais importante -, que pressionaram pela institucionalização desse novo espírito do tempo na forma dos Ministérios da República.
     Ocorre que esse novo espírito do tempo foi colocado em cheque pelos novos movimentos sociais originados em Acrópolis e em articulação com as outras Simples Cidades. Ou seja, torna-se muito difícil negar que esses movimentos não representam atualmente as opiniões dos públicos, princípio consagrado pela Constituição da Nova República como mandatário do poder, junto ao princípio da emancipação, ambos que precisam ser equilibrados pelo Ministério da Liberdade em sua interação com os outros Ministérios e os Públicos durante as Audiências Gerais.
     Pelo que parece, o problema geral das reivindicações gira em torno da questão da regulação das Moedas Criativas, os Sabere$, Talento$ e Alegria$, que circulam atualmente na República das Américas Unidas e sustentam o desenvolvimento inteligente de suas Simples Cidades. Essa regulação tem sido feita pelos trabalhos dos Ministérios do Conhecimento, da Interatividade e da Arte, em consonância com o Ministério da Liberdade, que fiscaliza os anteriores e representa as opiniões dos públicos quando por eles requisitado. 
     A decisão do Ministério de convocar uma Audiência Geral foi acertada. Tudo que se espera agora é que os públicos e os ministérios da Nova República possam debater e decidir com o melhor uso possível do princípio da unanimidade plural. Que o façam com muita ética reflexiva, mas também com um ótimo bom gosto, para o bem de nossa República.

Os Fundamentos do L'ArCA. Artigo científico/projeto

Caros,

Vimos disponibilizar artigo científico/projeto que fundamenta filosoficamente e de modo interdisciplinar o L'ArCA. Este paper será publicado ainda neste semestre em coletânea que reúne textos do V Encontro Anual da Associação Nacional de Direitos Humanos - ANDHEP, intitulada Direitos Humanos, Diversidade e Democracia, e organizada pelos profs. Eduardo Bittar (USP), Jane Beltrão (UFPA) e por mim.

Boa leitura!

Abraços,

Vitor Blotta


Metodologias Alternativas para a Educação em Direitos Humanos
O Laboratório de Arte e Cidadania Ativa*

Vitor Souza Lima Blotta[1]


Para Eduardo Manoel de Brito
(1978-2009)

Introdução

Este artigo pretende fundamentar de modo interdisciplinar a proposta de um novo método pedagógico que trabalha a educação em (e para os) direitos humanos e o fomento de práticas de cidadania ativa por meio de oficinas de criação artística coletiva. Trata-se do Laboratório de Arte e Cidadania Ativa (L’ArCA), cujas bases teóricas, características e resultados práticos serão aqui apresentados, o que não obsta práticas semelhantes de se sustentarem sob as mesmas mesmas justificativas. Em termos de política educacional, objetiva-se fortalecer especialmente dois dos pilares da educação erigidos pelo Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos[2]: a educação não-formal e a educação para mídia.
Como o ponto de partida do método é o contato com notícias, temas atuais, ou mesmo situações fictícias relacionados a problemas de direitos humanos em debate nas esferas públicas nacionais ou internacional[3], busca-se também estimular o envolvimento dos educandos, satisfazer a necessidade de constante atualização e contextualização do conhecimento, além de promover a importante abordagem de problemas práticos[4], sempre presentes em discussões sobre direitos humanos.
A fundamentação filosófica do método a ser proposto exige primeiramente uma mudança de perspectiva desde a teoria do conhecimento, que será aqui realizada a partir de uma comparação das formas com as quais as chamadas Teoria Tradicional e a Teoria Crítica[5], encaram a idéia de “fato” ou “realidade”. A partir dessa distinção, será possível traçar um paralelo com o debate entre cidadania passiva e ativa, já que se tratam também de formas de se agir perante a realidade.[6]
Essa busca por uma interpretação crítica dos fatos e a necessidade de se promover processos de aprendizado diferenciados, debates frutíferos a respeito dos direitos humanos e práticas de cidadania ativa, levanta necessariamente uma complexa questão a ser aqui enfrentada: se é verdade que as expressões simbólicas, ou as opiniões[7] dos cidadãos contribuem para constituir a realidade e orientar a ação social, como convencer as pessoas de que a manifestação de suas opiniões a respeito de temas presentes no debate público é imprescindível, além de que podem e devem influenciar as tomadas de decisão nos assuntos que lhes concernem?
A hipótese que possivelmente responde a esta questão abrirá espaço para as contribuições da arte às reflexões deste artigo, pois apesar de suas ambivalências[8], pretende-se defender aqui que a arte contém quatro características que podem contribuir a esse “convencimento” para um incremento agir prático na esfera pública: a arte é uma forma de potencialização da expressão simbólica (dimensão lingüística); contém uma dimensão crítica e possivelmente emancipatória das condições de conservação do real (dimensão política), e, portanto, do poder[9]; promove uma valorização da auto-estima, por meio de uma experiência terapêutica de autoconhecimento (dimensão psicológica); e, por fim, possibilita uma sublimação positiva de castrações da libido promovidas pelo convívio em sociedade (dimensão psicanalítica), a partir do reconhecimento social dos símbolos intersubjetivamente partilhados.[10]
Como última reflexão do artigo, serão apresentadas as razões pelas quais se entende que o método pedagógico a ser proposto pode contribuir especificamente para o debate acerca dos direitos humanos e de seus modelos de ensino. No entanto, apesar desse foco temático na área dos direitos humanos, pretende-se tornar claro que questões práticas relacionadas a qualquer área do saber podem também utilizar esse método como modelo de educação não-formal e de ensino crítico sobre a mídia de modo geral, incluindo aí meios eletrônicos e de imprensa.
Salienta-se, por fim, que se trata de método já testado com educandos do ensino superior e médio. Algumas das expectativas dos participantes e resultados das experiências serão relatados no decorrer do artigo para ilustrar e possivelmente comprovar a eficácia da proposta em relação aos objetivos aqui pretendidos.


1. Abordagem teórica: teoria tradicional, teoria crítica e as definições de “fato”

            Se este artigo pretende fundamentar uma metodologia alternativa de educação não-formal desde uma abordagem crítica de notícias e temas veiculados nos meios de comunicação de massa ou em obras fictícias cujos discursos pretendem apresentar a “realidade dos fatos”, exige-se antes de tudo uma breve reflexão epistemológica, da qual serão destacadas comparativamente distintas formas de se definir a idéia de “fato”.
            A criação da teoria do conhecimento como disciplina autônoma da filosofia é atribuída a Immanuel Kant[11], posto que estabeleceu, a partir de uma releitura de Aristóteles, as condições de possibilidade da formação de um conhecimento “puro”, ou independente das contingências da natureza e dos sujeitos individuais.[12] Essa distinção de Kant entre o mundo inteligível (das certezas matemáticas às leis universais da natureza e do dever moral) e o mundo fenomênico (das emoções e inclinações “meramente” subjetivas), remonta, no entanto, à lógica de Parmênides, ao idealismo platônico e, já na modernidade, primeiramente ao cartesianismo, o que influencia mais à frente - no século XX - à fenomenologia husserliana.[13]
            O que essas tradições filosóficas têm em comum, portanto, é a pretensão de que é possível conceber a objetividade do mundo apesar de suas condições subjetivas e espaço-temporais. Em outras palavras, separa-se de modo estanque o sujeito do objeto, sendo que o objeto, como um fato, torna-se “objetivo” ao se identificar com a representação mental dele tida pelo sujeito cognoscente. Não obstante, a partir dessa possível “objetividade pura”, tanto o filósofo como o cientista seriam capazes de descobrir e descrever leis universais que interligam os fatos ou objetos por relações de causalidade.[14]
            Esse seria, grosso modo, o núcleo epistemológico do que Max Horkheimer denomina Teoria Tradicional, para a qual um fato se resume à identidade entre natureza externa e pensamento, apesar de alguns autores tidos como “tradicionais”, como Kant e Husserl reconhecerem obscuridades, contingências e interesses que permeiam o processo de conhecimento.[15]
            Assim, para a teoria tradicional, um fato seria “aquilo que é”, ou que se tem como “dado”, independentemente do que o sujeito pensa, diz ou faz em relação a ele, posto que as leis universais do pensamento objetivo (e.g. o princípio da não-contradição na lógica formal), apesar de utilizadas de modo mais corrente pelos experts, independeriam até mesmo deles para resultar numa apreensão verdadeira do ser.
No entanto, já que conceber leis universais do pensamento sem seres humanos para pensá-las e exprimi-las parece algo deveras contra-intuitivo, a credibilidade prática atribuída a certos tipos de conhecimento e aos atores que os manipulam acaba inevitavelmente por gerar uma relação unilateral entre estes - que dizem o que “é”-, e aqueles que recebem a informação. Nesse sentido, autoridades, especialistas, instituições (como a mídia em sua função de “relatar os fatos”), passam a gozar de uma “competência” maior do que outras pessoas para descrever a realidade, enfraquecendo cada vez mais - pública e psiquicamente - a força constitutiva do real contida nas opiniões desses outros.
Já para a Teoria Crítica[16], que tem suas origens na crítica de Hegel ao transcendentalismo kantiano[17], na inversão do idealismo hegeliano por Marx e, posteriormente, na revisão de Marx pelos frankfurtianos[18], o processo de conhecimento não pode ocorrer por uma separação radical entre sujeito e objeto, posto que, de um lado, o objeto pensado não existe sem alguém concreto que o pense, e de outro, não se pode pensar no ser humano concreto sem uma reflexão sobre as condições de possibilidade da própria objetividade do pensamento.
Os conceitos de sujeito e objeto teriam, portanto, uma imanência recíproca, não sendo o primeiro mera subjetividade incondicionada (o “Eu” burguês individual, a coletividade homogeneizante do Leviatã ou da voluntas generalis rousseauniana) e tampouco o segundo facticidade “bruta”. Para Horkheimer, o sujeito se torna uma “construção do presente histórico”, enquanto que o objeto (ou um fato) é concebido como um conjunto de elementos de acontecimentos captados pela percepção e organizados de forma simbólica e inteligível. Ou seja, dependente de sua relação com os sujeitos.[19]
Por fim, o modelo habermasiano de teoria crítica[20] traz também uma concepção diferenciada da idéia de “fato”, e será adotada como perspectiva teórica deste estudo porque ressalta ainda mais a importância da linguagem e da opinião de toda uma “comunidade lingüística” na constituição da realidade. Trabalhando já num registro da filosofia da linguagem, pode-se dizer muito resumidamente que Habermas - ao criticar a concepção referencialista da verdade (Frege) e adotar a perspectiva pragmática da “comunidade de investigadores” de Peirce - entende a noção de “fato” como a presumida aceitação motivada de asserções constativas sobre objetos e/ou estados de coisas pelos membros de uma comunidade lingüística.[21]
Em outras palavras, um fato seria um consenso momentâneo de duas ou mais pessoas sobre a verdade de uma opinião em relação a um objeto ou acontecimento. Com isso, Habermas procura abandonar a dicotomia entre sujeito e objeto pela adoção de um modelo intersubjetivo e lingüístico-pragmático de racionalidade, o que significa dizer que só é possível pensar o mundo exterior (ou um fato) e o mundo interior (os sentimentos pessoais) - bem como justificar as tomadas de decisão - dentro de um espaço inevitavelmente compartilhado pela linguagem, tida aqui em sentido amplo.[22]
Além disso, Habermas limita[23] a idéia de fato a um consenso criticável e sujeito à explicação sobre uma pretensão universalizante de verdade presente em atos de fala que descrevem estados de coisas ou eventos, como a simples constatação “está chovendo”. Esse caráter universalizante estaria implicitamente presente, pois quando um sujeito falante que descreve uma situação, inevitavelmente o fará em algum momento de modo a reportar-se a um sem número de ouvintes que poderiam dar o mesmo significado à sua expressão.[24]
Com isso, pode-se dizer que, se a objetividade de um fato depende da forma como uma “comunidade de interpretação em geral” o encara - ou seja, depende da opinião dos outros possíveis falantes-ouvintes, que podem problematizá-la e exigir dela uma explicação -, haveria na idéia de fato uma certa “maleabilidadeintersubjetiva.[25]
Para a teoria crítica, portanto, cuja abordagem é adotada pelo L’ArCA, fato seria aquilo que se diz que “é”, somado ao que “pode ser”, ou que “deve ser”, posto que se sujeita a uma aceitabilidade motivada de sua pretensão verdade por todos os potenciais ouvintes e intérpretes membros da comunidade concernida.[26]



2. Da cidadania passiva à ativa: potencialidades e limitações

            O paralelo que se pode traçar entre a reflexão anterior e o debate entre cidadania ativa e passiva traz, de um lado, as potencialidades abertas pela teoria crítica para estimular uma ação transformadora e não somente adaptativa em relação ao mundo, mas também evidencia as limitações desse estímulo. Assim, após apresentadas de modo sintético a tensão entre cidadania passiva e ativa e sua relação com a teoria crítica, serão também apresentados possíveis limites desse modelo, que refletem na educação (e mais especificamente na educação em e para os direitos humanos), o que abre espaço para a discussão sobre a importância da arte nesse contexto, em seguida.
             Segundo Eduardo Bittar, a concepção político-jurídica tradicional de cidadania se refere à pertença a um Estado e a capacidade de exercício de direitos políticos restritos ao voto e à candidatura para compor quadros do poder público. Essa concepção “técnico-funcional” de cidadania acabaria por englobar tanto uma noção de cidadania passiva (e.g. condição de titular do direito político de ser votado), como de cidadania ativa (e.g. direito de votar). No entanto, trata-se ainda de direitos meramente formais que teoricamente garantem a possibilidade de todos exercê-los concretamente, mas não permite evidenciar e dar esteio político às diferentes e contraditórias demandas sociais e individuais de sociedades complexas.[27]
Assim, estar-se-ia diante da necessidade de uma revisão e ampliação da idéia de cidadania, que compreende até mesmo uma espécie de responsabilidade de constante cobrança, participação e busca por ampliação do acesso às tomadas de decisão das questões que afetam a todos. Essa concepção de cidadania ativa é compartilhada por Habermas, Bittar, Herkenhoff, e também por Herbert de Souza, o Betinho, posto que para todos, depende de uma atitude pró-ativa, não-conformista dos “parceiros do direito” em relação aos problemas comuns.[28]
Com essa mudança de atitude, o paciente se torna agente, ou, nas palavras de Habermas, o observador assume a perspectiva do participante, o que completa o fluxo de circulação política do Estado Democrático de Direito: leis devem respeitar normas e princípios superiores (legalidade), mas também devem garantir a problematização e o possível consentimento da população em relação aos motivos de serem aceitas como válidas (legitimidade). E não só esta última parte do processo, mas também as pressões sociais para a institucionalização de normas são construídas com práticas de cidadania ativa.[29]
            Portanto, assumir essa perspectiva de um participante de uma “comunidade de parceiros do direito” - que deve ter a esfera de sua autonomia individual garantida pela legalidade e protegida pela força coercitiva do Estado, e ao mesmo tempo procurar legitimar essa legalidade e coercibilidade pela defesa e apoio à abertura de espaços de exercício da autonomia política -, significa não só a passagem de uma condição de cidadania passiva para uma cidadania ativa como ação (recuperando da reflexão anterior a abordagem epistemológica da teoria crítica), mas também que a opinião de todos os membros da comunidade política é essencial para que haja uma correlação de equilíbrio entre o direito “querido” e o direito “de fato” – semelhante àquela entre sujeito e objeto.
             Com isso, chega-se a uma formulação mais específica da questão que iniciou este artigo: a consciência de que a constituição da realidade e as formas de com ela se interagir - como também a passagem da cidadania passiva para a ativa[30] -, dependem de modo imanente das opiniões ativas, confirmadoras e/ou problematizantes de todos os participantes das comunidades concernidas a respeito de estados de coisas e problemas comuns, é suficiente para gerar o estímulo necessário à prática efetiva desse tipo de agir político?
            Parece que não. Mesmo que para Habermas o paradigma procedimental do direito teria o condão de suplantar a fraca motivação da ação que encerra a razão comunicativa[31], garantindo a influência do agir comunicativo sobre as formas atuais de integração social[32], teme-se dizer que a motivação para um agir autônomo, socializante, conformador e/ ou problematizador das normas sociais, isto é, o estímulo a práticas efetivas de cidadania ativa, ainda requer esforços de outra ordem.
Se nem a religião ou a moral garantem mais essa “motivação interna” para o agir público sem incorrer em modelos autoritários de coordenação da ação (Habermas, 1984-II:43-112), talvez algumas reflexões sobre as relações entre educação, educação em direitos humanos, estética, psicologia e psicanálise possam oxigenar esses debates, normalmente centrados em temas clássicos da filosofia política.

3. Educação, educação para os direitos humanos e arte: a importância sociopolítica e psicológica de uma “linguagem banida”

Educação em (e para os) Direitos Humanos: a importância do debate público

Esta breve reflexão sobre educação e educação em direitos humanos pretende sugerir um breve panorama da condição atual da educação e o impacto que a educação em direitos humanos pode nela provocar, o que abre espaço para a discussão seguinte de suas relações com a arte.
Quando se pensa na dificuldade de se estimular práticas de cidadania ativa em estados democráticos de direito como o Brasil, cuja cultura democrática ainda é historicamente incipiente, além de tradicionalmente ligada a uma concepção formal de democracia, as respostas mais comuns recaem sobre a urgência de uma “educação do povo para uma cultura democrática participativa”. Entretanto, as condições das práticas educativas e as amarras atuais do sistema educacional brasileiro com imperativos mercadológicos tornam essas respostas meras palavras desesperançosas lançadas ao vento.
Essa constatação é explicada pelo interessante diagnóstico do tempo presente da educação apresentado por Paulo Freire nas “primeiras palavras” de Pedagogia da Autonomia, convergindo com as reflexões até agora apresentadas ao destacar de forma negativa o grande problema a ser enfrentado pela educação nesse contexto:

“A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-modernidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a ser ou a virar ‘quase natural’. Frases como ‘a realidade é assim mesmo, que podemos fazer?’ ou ‘o desemprego no mundo é uma fatalidade do fim do século’ expressam bem o fatalismo desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora. Do ponto de vista de tal ideologia só há uma saída para a prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que não pode ser mudada. O que se precisa, por isso mesmo, é o treino técnico indispensável à adaptação do educando, à sua sobrevivência” (Freire, Pedagogia da Autonomia, 1998, pp. 21-22. grifos nossos).

Bittar também diagnostica alguns obstáculos internos à educação formal que dificultam uma retomada da educação como processo formativo e capaz de fazer frente aos imperativos da sociedade de consumo. A idéia de que o educando precisa ser somente convencido da validade do conhecimento que lhe é transmitido, a excessiva erudição que dificulta interiorizações críticas, a distância entre “realidade ideada e realidade vivida”, o apelo teórico e a especialização dos conteúdos são algumas das características que precisariam ser combatidas pela educação em direitos humanos (Bittar, 2007:323).
            É contra esse quadro, aqui muito rapidamente apresentado, que as recentes formulações epistemológicas e metodológicas da educação em (e para os) direitos humanos tem se direcionado, no sentido de trazer uma espécie de revisão crítica das atuais práticas educativas humanistas. E ainda que não ataque diretamente os vínculos da educação com modelo econômico de mercado, a educação em direitos humanos pode lançar uma nova luz sobre que tipo de educação seria capaz de estimular novas práticas de cidadania ativa e participação política no Brasil.
Bittar trabalha sua reflexão sobre a educação em (e para os) direitos humanos a partir do estudo de Theodor Adorno em Educação Após Auschwitz (original de 1969). Da mesma forma que Adorno na resposta à pergunta sobre a “possibilidade de poesia após Auschwitz”, Bittar pensa a educação como desenvolvimento da auto-determinação individual e da autenticidade/originalidade[33] dos educandos. Somente esse tipo de experiência de ensino/aprendizado permitiria a prática da auto-reflexão necessária à dialética negativa[34], esta que, por sua vez, seria a única forma de racionalidade – e, portanto, de possível prática educativa - capaz de impedir a incursão do pensamento em suas próprias armadilhas de dominação, como teria ocorrido na “barbárie racionalizada” de Auschwitz (Bittar, 2007:318).
É para trabalhar o desenvolvimento da autodeterminação individual, no sentido de uma “recuperação da capacidade de sentir e pensar” do educando, que Bittar sugere práticas pedagógicas diferenciadas no panorama da educação em direitos humanos. A utilização de imagens e vídeos para discutir e retomar a sensibilidade visual dos educandos; a permissão para o aluno interferir e reagir às práticas pedagógicas, opinando sobre seu conteúdo e método; a possibilidade do educando vivenciar experiências de contato com a alteridade, ainda que em práticas de simulação teatral, por exemplo; além da capacidade de ouvir e falar, com estímulos musicais e atividades de debates mais do que aulas expositivas. É por isso que ao entrecruzar conteúdos didáticos com poesia, literatura, pintura, cinema, teatro, entre outras modalidades artísticas, torna-se possível promover experiências “ético-estéticas” que reabilitam “o potencial transformador da educação, e, portanto, do ensino jurídico” (Bittar, 323-324).  
Na educação em (e para os) direitos humanos, esse tipo de prática pedagógica diferenciada é fundamental, visto que se procura evitar uma concepção de direitos humanos como meras declarações de direitos, tratados, normas constitucionais e leis distantes dos cidadãos e que, em muitos casos, carecem de aplicabilidade prática. Ao contrário disso, a revisão da epistemologia clássica pela teoria crítica demonstra que temas práticos como os direitos humanos são insuficientemente apreendidos quando vistos à parte do debate público que se faz em torno deles (v. tópico 1 deste estudo).[35]
Um importante diferencial possibilitado pelo entrecruzamento de temas de direitos humanos com práticas pedagógicas ligadas a expressões artísticas, atividade específica do L’ArCA, é o descompromisso da expressão da subjetividade individual com as formas convencionais do discurso prático, o que lhe permite alcançar um público apesar de não constituir imediatamente uma pretensão política. Nesse momento, a “politização da arte”, enfatizada, porém não aprofundada por Walter Benjamin no célebre ensaio “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica” (1936)[36], não se confunde com a estetização da política, pois não se vale da instrumentalização do fazer artístico. Pelo contrário, no momento em que a arte se torna expressão da subjetividade individual nas pretensões de autenticidade e sinceridade dos discursos estético e expressivo, ela se politiza sem perder sua autonomia, podendo influenciar a ação cidadã de modo não-autoritário, já que é, de certo modo, desprovida de uma intencionalidade explícita.[37]
É nesse sentido que o papel da arte sobre a política, ou mesmo sobre a filosofia, se assemelha com o papel da educação em direitos humanos nas práticas convencionais da educação em disciplinas das humanidades. Se a estética teria a capacidade de revelar à filosofia o “não-conceituável pelo conceito”, isto é, aquilo que é inapreensível pelos discursos teórico e prático (Barbosa, 1996:47-49 e 51-54), ao incorporar formas do discurso estético-expressivo, a educação em direitos humanos dá condições para que a educação trabalhe esses veículos de expressão da subjetividade individual sem os quais a pretensão de autonomia não exerce todo seu potencial.
Trata-se, portanto, de retomar as condições de expressão autêntica da autonomia individual – uma autonomia “não-individualista” (v. tópico abaixo) - que se encontram obstadas tanto pela cultura do consumo quanto pela pedagogia conformista denunciada acima por Freire. Mas ainda sim, para que a arte se politize sem se converter num novo instrumento de dominação, algumas reflexões sobre sua condição presente também se fazem necessárias.

Arte e racionalidade estético-expressiva: banimento do espaço público e funções sociopolíticas e psicológicas

Primeiramente, para situar o lugar da arte no contexto cultural atual, pode ser feito uso da tese weberiana da diferenciação das três “esferas de valor” da razão na modernidade. Nessa divisão tripartite entre técnica, moral e arte, a eficiência da primeira esfera na gestão dos processos econômicos e burocráticos levou gradativamente à sua supervalorização em detrimento das outras duas.[38]
Como sintomas desse processo, ocorrem tanto uma “dessubstancialização” da moral como uma desvalorização da racionalidade prática da arte, sendo ambas relegadas à “irracionalidade da esfera privada” e especialmente a última ao processo de industrialização e “pasteurização” da cultura de massa.[39]
Essa desvalorização da racionalidade prática da arte significa dizer que parece haver atualmente um consenso em relação à idéia de que não seria possível justificar pública e convincentemente ações e tomadas de decisão políticas a partir de experiências estéticas. Ou seja, a arte seria, então, mera expressão irracional de um sentimento do indivíduo. Além disso, esse suposto consenso teria como motivo a própria idéia de que as expressões artísticas e as percepções e opiniões sobre a arte são sempre de cunho subjetivo e individual. A expressão popular que traduz essa posição é a conhecida “gosto não se discute”.
Duarte Júnior contesta ambas essas teses argumentando que a expressão artística e a percepção sobre a arte não são somente subjetivas e tampouco objetivas, pois

“... a capacidade expressiva do artista reside justamente em sua sensibilidade para captar os meandros dos sentimentos da comunidade humana e exprimi-los em formas Simbólicas. É óbvio que esta captação ele a realiza a partir dos seus sentimentos e de sua ‘visão de mundo’, mas afirmar que o artista exprime somente os seus próprios sentimentos é restringir e empobrecer a sua práxis... O artista, então, capta os sentimentos de sua época e comunidade, exprimindo-os a partir de suas experiências pessoais, de seu ‘sentir-se no mundo’.” (Duarte Júnior, Fundamentos Estéticos da Educação, 1981, pp. 77-78).

Assim, se a experiência estética não seria nem mera expressão subjetiva e nem a captação isenta de um “sentimento coletivo e objetivo da comunidade humana” ausente da subjetividade do artista ou do contemplador de uma obra, abre-se espaço para uma aproximação muito clara entre a tentativa de rompimento com filosofia da consciência que a teoria crítica procura realizar em relação à teoria tradicional, especialmente na vertente habermasiana da racionalidade como faculdade constituída - e constatada – pela intersubjetividade lingüística.
Habermas não chega a aprofundar em sua obra o potencial prático da racionalidade estética, o que lhe rende algumas críticas[40], mas suas reflexões em Teoria do Agir Comunicativo oferecem condições para se pensar, sim, no “banimento” da razão estética do “espaço público” junto à razão moral, na esteira de Weber, além de seu caráter inalienavelmente prático, apesar de ser a mais “subjetiva” forma de racionalidade diferenciada pela modernidade.[41]
No entanto, no plano político, a força crítica e mobilizadora da arte dificilmente pode ser negada, especialmente quando se pensa, nas artes plásticas, em Goya para a Revolução Francesa, Picasso na Guerra Civil espanhola e Diego Rivera na Guerra Fria; no teatro brechtiano à causa socialista, no jornalismo fotográfico de Nick Ut (autor da foto de uma menina correndo nua numa estrada após um bombardeio em Nepalm [1972])[42] ou na obra de Sebastião Salgado; na música de John Lennon e Bob Dylan para a Guerra do Vietnã, de Chico Buarque e Geraldo Vandré na ditadura militar brasileira e do U2 de Bono Vox nos conflitos separatistas na Irlanda.
Ao mesmo tempo, a estética pode muito bem não servir à emancipação de condições de dominação social, mas à também à própria manipulação da racionalidade pública e a mobilização social orientadas por determinadas diretrizes de ação pouco abertas à crítica.[43] Isso foi constatado de forma exemplar na utilização da estética nazi-fascista de Joseph-Goebbels e da cineasta Leni Riefenstahl para provocar a aceitação do povo alemão em relação ao terceiro Reich, mas não deixa de figurar no tempo presente com o fenômeno do populismo midiático e outras novas formas de estetização da política.[44]
Do mesmo modo, a célebre crítica da Indústria Cultural de Adorno e Horkheimer indica a utilização do cinema hollywoodiano e da então incipiente televisão como meios de se criar uma cultura de consumo orientada para a “domesticação política” nos regimes capitalistas ocidentais.[45] Além disso, em contextos de organizações tradicionais de costumes, como cultos religiosos, também são expressões estéticas que auxiliam a necessária padronização objetiva das condutas dos fiéis.[46]
Pode-se concluir dessas breves reflexões, portanto, que não seria a arte propriamente dita que se tornou uma linguagem banida do espaço público. As dimensões estéticas das formas culturais estão cada vez mais presentes nos meios de comunicação e na comunicação cotidiana, como é o caso da cultura de massas e da publicidade comercial desde meados do século XX.[47]
O que se entende estarem banidos da esfera pública são:
1. As exatas dimensões em que a arte se relaciona com a política, isto é, a dimensão prática dos discursos estético-expressivos. A ausência de uma discussão séria sobre esse tema faz com que, por um lado, esses discursos sejam tidos como expressões por demais subjetivistas e pessoais, enquanto que de outro, sua utilização em práticas de estetização da política é feita sem um escrutínio público preparado para criticá-lo.[48]   
2. A possibilidade fruição, pela maioria da população, do direito de expressão artístico-cultural (art. 5º, IX, CF/88[49]), no sentido de serem proporcionadas a todos, e não somente a poucos, condições de se realizar manifestações artístico-culturais (ou estético-expressivas) que tenham espaço e impacto na esfera pública.[50]
3. O conhecimento das formas com que a arte se relaciona com a psicologia humana a ponto de motivar a ação, seja ela emancipatória ou expressão de algum tipo de dominação. Apesar de fazer parte do primeiro ponto apresentado, procura-se aqui destacar a questão psicológica em função de sua importância na nova metodologia de educação em direitos humanos a ser apresentada ao final do estudo, especialmente quando se defende que essa metodologia é capaz de despertar práticas de cidadania ativa.
Em termos morais e psicológicos, deve-se ressaltar a importância da arte para a auto-realização individual e o fortalecimento da autoestima. Se é certo que os discursos estético e expressivo representam veículos de expressão da subjetividade interior carregadas respectivamente de pretensões de autenticidade e sinceridade (Habermas, 1984-I:I-66-70 e 75-76), não se pode negar sua influência sobre a formação da personalidade individual, que é, segundo Habermas, junto à sociedade e à cultura, um dos componentes estruturais do mundo da vida. Nesse sentido, quanto menos constrangidos são esses discursos no interior de processos de aprendizagem, mais se colabora para processos de individuação, o que segundo Jung significa um desenvolvimento maduro e saudável da personalidade (J Franz, M.-L, 2002:161).
Nesse entrecruzamento de teoria moral e psicologia, a teoria do reconhecimento elaborada por Axel Honneth a partir de estudos do jovem Hegel sugere que a autoestima é o resultado da forma de reconhecimento ligada aos afetos da família e do amor. A ausência de condições para o exercício dessa forma de reconhecimento, que poderiam ser retomadas em experiências estéticas e artísticas, gera inevitavelmente patologias sociais.[51]    
Durkheim também defendeu tese semelhante em seus estudos sobre a sociologia da religião, analisados por Habermas no segundo e terceiro tópico do capítulo V de The Theory of Communicative Action (1984-II:64-94), quando ressaltou os processos modernos de individuação como fundamentais para a estabilização das tensões morais e da solidariedade que mantém a coesão da integração social em sociedades modernas. A implicação dessas reflexões de Honneth e Durkheim sobre a questão da cidadania ativa, discutida acima, fica evidente.
Já a conexão entre arte e psicanálise deriva da idéia de que o inconsciente é estruturado por uma linguagem de símbolos, ou do “imaginário”, e por isso afetos, desejos e impulsos encontrariam suas instáveis identificações e satisfações em sons, imagens e em outras formas de expressão artística que trabalham aspectos sensoriais do ser humano.[52] É por isso que a experiência estética, ao permitir expressões autênticas e sinceras do indivíduo, pode realizar processos de individuação na forma saudável de sublimações dos desejos, capazes de provocar efeitos terapêuticos.[53]
No registro da epistemologia crítica intersubjetiva trabalhada no primeiro tópico deste artigo, Habermas identifica como Freud relacionou uma neurose no plano individual com uma instituição no plano social. A partir dessa análise, realizada nos estudos do filósofo sobre psicanálise em Conhecimento e Interesse, original de 1968, torna-se possível pensar num modelo de “circulação de impulsos sociais”, que seriam “linguistificados” em instituições na forma de normas morais ou jurídicas. Segundo Habermas, a capacidade dessas instituições em promover autocríticas e se abrir a críticas externas determinaria se se tratam de sublimações ou repressões e negações. No caso das duas últimas, os desejos seriam “des-linguistificados”, ou impedidos de se “linguistificar”, em função de obstáculos encontrados na comunicação pública, como valores culturais (Habermas, 2002b:214-300; Rouanet: 1998; Blotta, 2009).
É com essas reflexões que se pode afirmar que a retomada da compreensão das funções práticas da arte e da estética em geral, bem como de sua importância psicológica e psicanalítica, que fundamentam o método alternativo de educação em seguida proposto, podem colaborar com os discursos teóricos e práticos no sentido de estimular práticas de cidadania ativa desde o plano individual.
Ao mesmo tempo, espera-se que essas perspectivas também contribuam para processos de auto-reflexão institucional - seja na educação, na política, no debate público ou mesmo na academia - que lhes prepare cada vez mais para filtrar de modo não violento impulsos que não expressam outra coisa senão pretensões de individuação, ainda que elas mesmas ocorram muitas vezes de modo negativo e violento. Quanto mais as instituições sociais qualificarem essa função que lhe cabe, a de facilitar e garantir processos de “auto-reflexão social” (Blotta, 2010a), mais estimulados ainda se sentirão os indivíduos para engajar em práticas de cidadania ativa que irrompam para esfera pública.

4. Metodologia das oficinas, relações com os resultados do estudo e efeitos práticos.

Por fim, a metodologia alternativa de educação em direitos humanos do Laboratório de Arte e Cidadania Ativa (L’ArCA), até aqui fundamentada de modo interdisciplinar, será apresentada em tópicos intercalados por mais algumas considerações específicas ligadas à metodologia e de resultados de aplicações práticas de atividades semelhantes já realizadas.
Se as reflexões e argumentos formulados neste estudo podem ser considerados válidos, torna-se possível afirmar que oficinas de criação artística coletiva como as realizadas pelo L’ArCA, que trabalham com temas práticos como direitos humanos são capazes não somente de gerar processos de aprendizagem diferenciados, mas também estimulam práticas de cidadania ativa. Isso porque 1. podem liberar formas obstruídas de expressão da autonomia individual que colaboram para processos de individuação pela socialização, aumentando autoestima e a confiança do indivíduo que adentra espaços públicos; 2. melhoram a compreensão e ampliam o alcance de aplicação do discurso prático em relação ao estético-expressivo, permitindo que se exija essa ampliação não só em interações simples, mas também nas práticas de instituições sociais; 3. promovem experiências terapêuticas[54] e de sublimação dos desejos, reprimidos por uma comunicação pública dominada pelas concentradas mídias de massa e orientada pelo setores de consumo cultural e a marketing político.

Apresentação dos fundamentos da oficina
Pode ser realizada inicialmente breve explicação baseada nos argumentos deste artigo. Uma opção interessante é intercalar a explicação com a projeção de imagens e referências aos argumentos, ou mesmo apresentações artísticas que exemplificam o que será criado a partir da oficina. A utilização de rápidos exercícios de aquecimento corporal e vocal com os participantes em alguns momentos da explicação também auxilia na manutenção do interesse de todos. O humor é outro recurso que energiza o ambiente e colabora para aumentar a disposição dos participantes para as atividades.

Apresentação da notícia ou tema e discussão com os participantes
Notícia de veículo de imprensa, tema ou história fictícia ligada com o problema a ser tratado – no caso, questões que problematizam os direitos humanos -, são materiais passíveis de utilização. É importante escolher um tema que possa interessar os participantes, com referências e outros materiais de apoio; de preferência, um problema discutido atualmente na imprensa, ou tema possivelmente relacionado às preocupações e afazeres do dia-a-dia dos participantes. O conteúdo precisa despertar a curiosidade, de modo que possam querer se expressar sobre ele. Nesse momento, a ênfase na idéia de que a realidade é constituída por consensos coletivos sobre fatos, objetos e estados de coisas dá validade e estimula novas interpretações a seu respeito (v. tópico 1 deste artigo). Isso porque essa perspectiva auxilia também na busca por uma melhor compreensão dos fatos, ainda que na forma de expressões artísticas. Uma discussão inicial sobre o tema pode ser feita com os participantes, para fins de esclarecimento ou para receber as primeiras opiniões e expressões.

Distribuição em modalidades artísticas e início das criações coletivas
A oficina continua com os participantes tomando lugar nas diferentes bases criativas, centradas cada uma numa modalidade artística distinta e com seus respectivos facilitadores. Atenção especial é dada para o método de criação, que se assemelha às sessões de improvisação e brainstorming, como respectivamente realizadas no jazz e em práticas corriqueiras de publicitários, com os participantes utilizando também elementos das outras bases para suas criações. A idéia é que, sobre as bases comuns de linguagens intersubjetivamente partilhadas e o trabalho dos facilitadores, seja possível um livre fluxo de idéias e expressões também semelhante à livre associação da psicanálise freudiana, capaz de dar acesso a conteúdos inconscientes.[55]  
Como não se trata de chegar necessariamente a um consenso no plano ético da razão comunicativa, mas numa espécie de “consenso estético” (que tem sua eticidade cravada na autonomia de cada expressão individual, o que não deixa de ser também comunicativo, no sentido habermasiano), os resultados de oficinas anteriores do L’ArCA parecem demonstrar que quando se trata do fazer artístico compartilhado, há uma disposição maior para a composição de interesses do que em deliberações discursivas. Apesar de aparentemente óbvia, essa constatação refuta o argumento de que “gosto não se discute”.
 Essa distribuição dos participantes em “bases” de diferentes modalidades artísticas não é essencial, mas contribui para que as pessoas possam escolher o que farão conforme suas aptidões pessoais e preferências. Além disso, forma grupos menores dentro dos quais a expressão individual não é sufocada pela coletiva, permitindo um trabalho colaborativo entre todos, porém diferenciado conforme as características pessoais de cada participante. A idéia de um jogo democrático em que a singularidade é respeitada se torna possível neste micro espaço público.
Por fim, segue-se à especificação das bases artísticas, coordenadas por facilitadores:

a) Literatura: responsável pela recriação da história, notícia ou tema em forma de versos livres. Preferencialmente composta com o auxílio de um computador capaz de projetar as palavras em uma tela no momento da criação.
b) Música: que fará a trilha sonora. Pode ser composta por instrumentos musicais simples e acústicos, como violões e percussão, ou também por instrumentos elétricos e bateria, de acordo com as proporções e condições do espaço a ser utilizado. Deverá criar os climas, a trilha sonora ou canção da oficina, com base especialmente nas criações da literatura, mas também do trabalho das artes plásticas e cênicas.
c) Artes Plásticas: montará os cenários e figurinos durante a dinâmica. Recomenda-se a utilização de material reciclável, como jornais e papelão, além de outros itens, como tintas, pincéis, giz, papel, flip-chart, bem como possíveis assessórios para compor o figurino, como maquiagem etc. Essa base também pode sugerir panos de fundo para os slides em que a base da literatura escreverá as letras/enredo, formando um material digital interessante para análise futura e divulgação dos resultados.
d) Artes Cênicas: fará a encenação da história recontada por meio da criação expressões corporais e dramatúrgicas, buscando influência nas outras bases e com dinâmicas e ensaios momentâneos dos participantes, coordenados pelo facilitador.

            Os grupos trabalham e interagem durante um tempo fixo ou o necessário para compor, em conjunto, uma “música-teatralizada” (ou uma “peça-musical”) que reintepreta e reconta a notícia ou o tema, com toda a liberdade que linguagem artística permite. Finalizando as últimas preparações para obter o resultado, realiza-se uma apresentação final, da qual se recomenda registro em vídeo e/ou áudio. A apresentação pode ser seguida de uma rodada de comentários e impressões dos participantes. O material pode ser disponibilizado em um endereço eletrônico, para acesso dos participantes e outros interessados, o que o torna uma plataforma permanente da oficina, capaz de somar-se a outras iniciativas semelhantes e compor expressões digitais de espaços públicos estético-expressivos.

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* Este artigo origina-se de palestra seguida de oficina de criação coletiva realizada no Ciclo de Palestras de 2008 do Curso de Pedagogia da Faculdade IESCAMP, Campinas-SP, em 09/04/2008. O dia marcou a primeira experiência do Laboratório de Arte e Cidadania Ativa (L’ArCA), que coordeno desde então. Outras experiências semelhantes foram realizadas posteriormente, mas o L’ArCA realizará nova oficina completa no dia 26/03/2011, desta vez com apoio da ANDHEP, em um ciclo sobre economia do conhecimento organizado pelo Prof. Dr. Gilson Schwartz na Escola de Comunicação e Artes da USP (v. http://www.cidade.usp.br/blog/moedas-criativas-na-cidade-do-conhecimento/. Último acesso: 21/03/2011). Uma versão primária deste texto foi apresentado em grupo de trabalho no IV Encontro Anual da ANDHEP, em Vitória-ES, outubro/2008.
[1] Doutorando em Filosofia do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP; Secretário-Adjunto da Associação Nacional de Direitos Humanos – Pesquisa e Pós-Graduação – ANDHEP.
[2] Além de “Educação e Mídia”, os outros eixos do plano compreendem “Educação Básica”, “Educação Superior”, “Educação Não-Formal” e “Educação dos Profissionais dos Sistemas de Justiça e Segurança”. A respeito do eixo aqui trabalhado, o plano entende que “A mídia pode tanto cumprir um papel de reprodução ideológica que reforça o modelo de uma sociedade individualista, não-solidária e não-democrática, quanto exercer um papel fundamental na educação crítica em direitos humanos, em razão do seu enorme potencial para atingir todos os setores da sociedade com linguagens diferentes na divulgação de informações, na reprodução de valores e na propagação de idéias e saberes.” (PNEDH, 2006:53).
[3] Sobre problemas relacionados à idéia de uma esfera pública internacional, que não poderão ser tratados aqui, v. Fraser, N. 2007:224-253.
[4] Entende-se a idéia de “problemas práticos” aqui no sentido de racionalidade prática apregoado por Jürgen Habermas, que, na esteira da filosofia kantiana, define-os como questões concernentes a valores e necessidades humanas; à ética, à moral, ou à idéia de “vida boa”; questões que respondem às perguntas: “o que fazer?” e “o que é bom para todos?”. Em sua obra Técnica e Ciência como Ideologia (1968), por exemplo, Habermas apresenta a tese de que a eficácia da ideologia tecnocrática estaria na capacidade que ela tem de eliminar do debate público as questões práticas, atribuindo-as somente a especialistas, o que significa a criação de uma cultura de massa despolitizada. cf. Habermas, Op. cit., 2006, pp. 70-74.
[5] Serão utilizadas, para tanto, as reflexões de Max Horkheimer em seu célebre artigo “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, publicado pela primeira vez na Revista do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt em 1937, e considerado, junto ao artigo “Filosofia e Teoria Crítica” (do mesmo ano), de Herbert Marcuse, como um dos marcos iniciais da releitura do pensamento de Marx promovida à época pelo Instituto.
[6] O debate entre cidadania ativa e passiva terá seus fundamentos extraídos das reflexões feitas por Eduardo Bittar em suas obras Direito na Pós-Modernidade (Forense, 2005), além do livro Ética e Cidadania (Moderna, 1994), de autoria de Herbert de Souza, o Betinho, e Carla Rodrigues.
[7] Visto que serão trabalhadas reflexões referentes à autenticidade e à particularidade da experiência estética e suas relações com a formação da opinião pública, não será aqui distinguida de modo radical a idéia de opinião como doxa (no sentido de senso comum ou “mera opinião”), em oposição à epistéme (como conhecimento fundamentado) (cf. Bittar, Metodologia da Pesquisa Jurídica, 2005, p. 12). Além disso, se a experiência estética obscurece a separação entre o chamado “discurso interno” (símbolos “não-comunicáveis” ou recalcados da psique) e o “discurso público” (cf. Duarte Jr., Fundamentos Estéticos da Educação, 1981, p. 77), seu simples caráter expressivo e comunicável (ainda que propositadamente “não-controlado”, em oposição à ciência), pode lhe conferir a conotação de “voz, más primitiva pero aún en circulación”, sentido atribuído à idéia de Öffentlichkeit em Habermas (cf. a interessante “Advertência del traductor” [Antoni Domènech] da versão espanhola da obra Mudança Estrutural da Esfera Pública [Strukturwandel der Öffentlichkeit, 1962]: Habermas, História y crítica de la opinión pública, 1981, p. 9).
[8] “A interconexão entre a afirmação e a denúncia do que existe, entre a ideologia e a verdade, é imanente à estrutura da arte ... A arte submete-se à lei do dado concreto, ao mesmo tempo que a transgride.” (Marcuse, A Dimensão Estética, 2007, p. 20).
[9]Aqui serão trabalhadas as reflexões de Theodor Adorno e Herbert Marcuse sobre o caráter emancipatório da obra de arte e sua importância para a filosofia política, respectivamente nas obras Dialética Negativa (Adorno, 1966), Teoria Estética (Id., 1969) e A Dimensão Estética (Marcuse, 1977).
[10] Nessa temática psicológica e psicanalítica, serão utilizadas algumas reflexões de Freud em seus chamados “textos sociais”, como O Mal-Estar na Modernidade (1930), e de Carl G. Jung, O Homem e Seus Símbolos (1964).
[11] Habermas, Consciência Moral e Agir Comunicativo, 1989, p. 18.
[12] Sobre o tema das categorias a priori de Kant, cf. Kant, Crítica da Razão Pura, 1995, pp. 21-39 e 90-91. Cf. também, para uma crítica aprofundada à teoria do conhecimento de Kant, Habermas, Consciência Moral e Agir Comunicativo, 1989, pp. 17-18 e 100-104.
[13] Para mais sobre essas tradições que, segundo Habermas, dão origem e ligam-se ao positivismo contemporâneo, cf. Habermas, Técnica e Ciência como Ideologia, 2006, pp. 29-37; cf. também Horkheimer, “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, 1980, pp. 117-118.
[14] “Depois da constatação de uma lei essencial (Wesensgesetz), o sociólogo de orientação fenomenológica estará indubitavelmente seguro de que cada exemplar teria que proceder de conformidade com essa lei. Mas o caráter hipotético da lei essencial se impõe no problema; (...) Tem-se sempre, de uma (sic) lado, o saber formulado intelectualmente e, de outro, um fato concreto (Sachverhalt) que deve ser subsumido por esse saber.” Horkheimer, Teoria Tradicional e Teoria Crítica, 1980, p. 120.
[15] Horkheimer, “Teoria Tradicional...”, 1980, pp. 127-128.
[16] Não poderão ser aqui trabalhados os pressupostos crítico-filosóficos que compõem a teoria crítica elaborada pela chamada “primeira geração da Escola de Frankfurt”, mas somente mencioná-los: são eles a orientação para a emancipação (projeção de um modelo de um modelo de sociedade livre e justa não delimitado conteudisticamente), o diagnóstico do tempo presente (condições que se opõem ao modelo anterior são vistas como condições de dominação a serem superadas), e crítica das condições da produção do conhecimento (consciência da falibilidade e condicionamento axiológico, político e histórico-social do pensamento). Para uma reflexão mais detida sobre o assunto, cf. Nobre, A Teoria Crítica, 2004. V. também Blotta, 2010, pp. 60-66 e  274-292.
[17] Sobre essa crítica, que, grosseiramente, trata de uma historicização e uma dialetização das “cisões da subjetividade” promovidas pelas Três Críticas de Kant, e que obviamente não poderá ser aprofundada aqui, cf. Habermas, O Discurso Filosófico da Modernidade, 2002, pp. 24-33.
[18] Para aprofundamento nesse percurso da teoria crítica, cf. Habermas, op.cit., pp. 73-97.
[19] “No pensamento sobre o homem, sujeito e objeto divergem um do outro; sua identidade se encontra no futuro e não no presente (...) significa, no pensamento efetivamente crítico, não apenas um processo lógico, mas também um processo histórico concreto. Em seu percurso se modifica tanto a estrutura social em seu todo, como também a relação do teórico com a classe e com a sociedade em geral, ou seja, modifica-se o sujeito e também o papel desempenhado pelo pensamento.” (Horkheimer, “Teoria Tradicional e Teoria Crítica, 1980, p. 133. grifos nossos).
[20] Para mais sobre esse modelo, denominado por Habermas “crítico-comunicativo”, que também não poderá ser devidamente aprofundado aqui, cf. Habermas, The Theory of Communicative Action, vol. II, 1984, pp. 374-403.
[21] Habermas, Direito e Democracia, vol I, 1997, pp. 31-35.
[22] Id, Técnica e Ciência como Ideologia”, 2006, p. 36.
[23] A concepção habermasiana de racionalidade comunicativa subdivide-se, na esteira das Três Críticas de Kant e na tese da diferenciação das esferas de valor da modernidade de Weber, em três pretensões inevitavelmente universalizantes (embora factuais, posto que encontradas na comunicação cotidiana) de validade: verdade, justiça e sinceridade/autenticidade. Para Habermas, portanto, a idéia de verdade tem sua importância reduzida na constituição da racionalidade, em oposição às filosofias antiga, medieval e moderna. Apesar de se submeter, em última análise, ao crivo de um consenso prático argumentativo para a obtenção de sua validade, a pretensão de verdade corresponde a interesses cognitivos, formas de expressão e “resgatabilidade” (ou capacidade de ser defendida e “redimida” quando problematizada), analítica e categoricamente distintas das pretensões de justiça e sinceridade/autenticidade. Cf. Habermas, On the Pragmatics of Social Interaction, 2001, pp. 87-93.
[24] “No lugar do conceito bipolar de um mundo representado lingüisticamente, surge em Peirce o conceito tripolar da representação lingüística de algo para um possível intérprete. O mundo como síntese de possíveis fatos só se constitui para uma comunidade de interpretação, cujos membros se entendem entre si sobre algo no mundo, no interior de um mundo da vida compartilhado intersubjetivamente. “Real” é o que pode ser representado em proposições verdadeiras, ao passo que “verdadeiro” pode ser explicado a partir da pretensão que é levantada por um em relação ao outro no momento em que assevera uma proposição. Com o sentido assertórico de sua afirmação, um falante levanta a pretensão, criticável, à validade da proposição proferida; e como ninguém dispõe diretamente de condições de validade que não sejam interpretadas, a “validade” (Gültigkeit) tem de ser entendida epistemicamente como “validade que se mostra para nós” (Geltung). A justificada pretensão de verdade de um proponente deve ser defensável, através de argumentos, contra objeções de possíveis oponentes e, no final, deve poder contar com um acordo racional da comunidade de interpretação em geral.” Habermas, Direito e Democracia, vol. 1, 1997, pp. 31-32 (grifos nossos). Para um resumo interessante do conceito da razão comunicativa, cf. Id., op. cit, pp. 17-44.
[25] “The domain of subjectivity is complementary to the external world, which is defined by its being shared with others. The objective world is presupposed in a common as the totality of facts, where ‘fact’ signifies that a statement about the existence of a corresponding state of affairs, p, can count as true.” (Habermas, 1984-I:52).
[26] Para efeito de simplificação desse conceito, foi trabalhada em sala de aula uma dinâmica com imagens que permitiu também uma crítica à idéia do imediatismo da fotografia ou da comunicação em “tempo real” das mídias digitais. Para se criticar o caráter pseudo-realista da informação que se apresenta como “janela não-mediada do mundo”, são trazidas duas imagens: uma foto do World-Trade Center em chamas no 11 de setembro de 2001, e a capa do comic-novel Na Sombra das Torres Ausentes, de Art Spiegelman (Companhia das Letras, 2005), diante das quais se faz a seguinte pergunta: quais das duas imagens capta com mais fidelidade a realidade? Diante das respostas, trabalha-se a idéia da parcialidade das imagens “em tempo real”. Para mais sobre o tema, cf. Blotta, 11 de setembro: mídia, política e exceção.
Disponível em http://www.direitoacomunicacao.org.br/novo/content.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=26&dir=DESC&order=date&limit=15&limitstart=15. (último acesso em: 05/10/08); Bucci, Televisão Objeto. Tese de doutorado defendida na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, 2002.
[27] Bittar, “Cidadania: Condição de Exercício dos Direitos Humanos”. In. Seção de Artigos da Associação Nacional de Direitos Humanos – ANDHEP. Disponível em http://www.andhep.org.br/content/view/25/56/ (último acesso: 30/07/08).
[28] Cf., para maior aprofundamento, Bittar, O Direito na Pós-Modernidade, 2005, pp. 432-434; Herkenhoff, Ética, Educação e Cidadania, 1996 (apresentação); Souza, H. Rodrigues, C. Ética e Cidadania, 1994, p. 22. Para Habermas, a insuficiência do direito formal para garantir condições de cidadania ativa, democracia participativa, ou o próprio fundamento do Estado democrático de direito torna-se clara com o seguinte raciocínio: “...a fundamentação do sistema de direitos pela via da teoria do discurso esclarece o nexo interno que existe entre autonomia privada e pública. O direito não consegue seu sentido normativo pleno per se através de sua forma, ou através de um conteúdo moral dado a priori, mas através de um procedimento que instaura o direito, gerando legitimidade.” (Habermas, Direito e Democracia, vol. I, 1997, p. 172).
[29]Essa reflexão, que constitui uma das características mais peculiares do direito moderno para Habermas, permite revelar a co-originariedade entre princípios que eram vistos anteriormente como contraditórios e excludentes. Cf., para maior aprofundamento, Habermas. “O Estado Democrático de Direito – Uma amarração Paradoxal de Princípios Contraditórios?”. In. Id, Era das Transições, 2003, pp. 153-173.
[30] E nesse sentido, a própria sobrevivência do equilíbrio tênue dos princípios que informam o Estado democrático de direito.
[31]A razão comunicativa possibilita, pois, uma orientação na base de pretensões de validade; no entanto, ela mesma não fornece nenhum tipo de indicação concreta para o desempenho de tarefas práticas, pois não é informativa, nem imediatamente prática. De um lado, ela abrange todo o espectro de pretensões de validade da verdade proposicional, da veracidade subjetiva e da correção normativa, indo além do âmbito exclusivamente moral e prático. De outro lado, ela se refere apenas às intelecções e asserções criticáveis e abertas a um esclarecimento argumentativo – permanecendo neste sentido aquém de uma razão prática, que visa à motivação e à condução da vontade. A normatividade no sentido de orientação obrigatória do agir não coincide com a racionalidade do agir orientado pelo entendimento em seu todo. Normatividade e racionalidade [comunicativa] cruzam-se no campo da fundamentação de intelecções morais, obtidas num enfoque hipotético, as quais detêm uma certa força de motivação racional, não sendo capazes, no entanto, de garantir por si mesmas a transposição das idéias para um agir motivado.” (tradução livre de: Habermas, Between Facts and Norms, 1996, p. 5. itálico do autor. grifos nossos)
[32] “O paradigma procedimental distingue-se dos concorrentes, não apenas por ser ‘formal’, no sentido de ‘vazio’ ou ‘pobre de conteúdo’. Pois a sociedade civil e a esfera pública política constituem para ele pontos de referência extremamente fortes, à luz dos quais, o processo democrático e a realização do sistema e direitos adquirem uma importância inusitada. Em sociedades complexas, as fontes mais escassas não são a produtividade de uma economia organizada pela economia de mercado, nem a capacidade de regulação da administração pública. O que importa preservar é, antes de tudo, a solidariedade social, em vias de degradação, e as fontes do equilíbrio da natureza, em vias de esgotamento. Ora, as forças da solidariedade social contemporânea só podem ser regeneradas através as práticas de autodeterminação comunicativa.” (Habermas, Direito e Democracia, vol. II, 1997, p. 189).
[33] A questão da autenticidade em Adorno como um dos resultados a serem buscados pelas práticas pedagógicas após Auschwitz relaciona-se de certa forma com uma das especializações da racionalidade em Habermas (razão estético-expressiva), já que se trata se uma expressão da subjetividade interior do indivíduo. V. Habermas, 1984-I:90-94. Esta, por sua vez, pode ser ligada também tanto à expressão artística, como se verá à frente, e da mesma forma à idéia de individuação, produto do desenvolvimento de uma circulação ideal das energias psíquicas que permite o desenvolvimento maduro da personalidade. V. Franz, M.-L, 2002:158-164.
[34] Como não será possível realizar aqui uma análise devida da idéia de dialética negativa, que trabalha a razão como auto-reflexão constante sobre seus próprios fundamentos para não incorrer no princípio da identidade, que procura reduzir a riqueza da experiência ao conceito, sugere-se para leitura Habermas, O Discurso Filosófico da Modernidade, 2002, cap IV. V. também Dialética da Reconciliação. Estudo sobre Habermas e Adorno, 1996, pp. 47-49 e 51-54 e a própria obra de Adorno, Dialética Negativa. Desta, pode-se destacar a seguinte citação de seu prólogo: “Em las discusiones estéticas, más recientes se habla de antidrama y de antihéroes. De um modo semjante, y a pesar de la distancia que guarda con respecto a todos los temas estéticos, se podría llamar a la Dialéctica Negativa rechaza el principio de unidad y la omnipotencia y superiordad del concepto. Su intención es, por el contrario, substituirlos por la idea de lo que existiría fuera del embrujo de una tal unidad.” Adorno (1975:8)    
[35] Para esboços de uma teoria intersubjetiva dos direitos humanos, que fundamenta essa perspectiva, v. Blotta, 2010a:56-80.
[36] Para aprofundamento no tema, v. Habermas, 1975.
[37] São também as reflexões de Adorno sobre estética e filosofia que permitem essa comparação: “O momento da não violência, ligado à idéia de que ‘a síntese operada pela obra de arte não é apenas imposta pelos elementos’ se encontra também na categoria do não-intencional: “A música visa uma linguagem desprovida de intenções”, escreve Adorno no texto Fragmentos sobre as relações entre música e linguagem. Como o material se constitui como não-intencional, ele torna-se o lugar onde o novo tem lugar: ‘a verdade do novo, verdade do inviolável, se situa na ausência de intenção. Ela entra assim em contradição com a reflexão, o motor do Novo e lhe confere uma segunda potência’. Não é o sujeito que se exprime, mas algo de imprevisível.” Kogler, Susanne. “Música. Linguagem e autonomia da arte: algumas observações sobre a atualidade do pensamento adorniano”. Texto apresentado no Seminário “Autonomia e forma musical a partir de Adorno”. 24 e 25 de março de 2008. PPG em Música da UNESP, 2008 (citações de Teoria Estética, de Adorno).
[38] Trata-se, portanto, de uma predominância do pensamento lógico-dedutivo sobre o prático-moral e estético-expressivo. Sobre essa leitura da modernidade como um processo de subjetivização e formalização da razão e, consequentemente, de desvalorização da racionalidade da moral e da arte, cf. Habermas, The Theory of Communicative Action, vol. I, 1984, pp. 339-355.
[39] Horkheimer, Eclipse da Razão, 2007, pp. 9-62; Adorno e Horkheimer, Dialética do Esclarecimento, 1985, pp. 113-156; Habermas, Op. cit., p. 347.
[40] Para um estudo que discute o não-aprofundamento de Habermas sobre a arte, especialmente em seu diálogo filosófico com Adorno, Cf. Barbosa, Dialética da Reconciliação. Estudo sobre Habermas e Adorno, 1996. V. Também os estudos de Albrecht Wellmer (1998) e Duvenage (2003).
[41] Habermas denomina a racionalidade da arte como “racionalidade expressiva”, e tece a seguinte explicação sobre a importância de seu caráter prático, o que se relaciona claramente com a dinâmica dos direitos humanos, como se verá mais à frente: “Expressive knowledge can be explicated in terms of those values that underlie need interpretations, the interpretations of desires and emotional attitudes. Value standards are dependent in turn on innovations in the domain of evaluative expressions.” Habermas, The Theory of Communicative Action, 1984-I, p. 334.
[42] O ativismo político da sociedade civil estadunidense pelo fim da guerra do Vietnã a partir da divulgação de imagens e informações pela imprensa do país, o que teria levado a uma alteração da forma de atuação de sua política externa, é relatada e analisada por Noam Chomsky em: Mitchell, P. e Schoeffel, J. (eds.), 2002:180-184.  
[43] Novamente, relembra-se Marcuse: “O conceito de arte como uma força produtiva essencialmente autônoma e negadora contradiz a noção que vê a arte como desempenhando uma função essencialmente dependente, afirmativo-ideológica, isto é, de glorificação e absolvição da sociedade existente”. Marcuse, A Dimensão Estética, 2007, p. 20. Cf. também, Id. The afirmative Character of Culture (O Caráter Afirmativo da Cultura), da obra Negations (Beacon Press, Boston, 1968).
[44] Para tanto, recomenda-se o conhecido filme-documentário “Arquitetura da Destruição”, de Peter Cohen (1989). Em termos mais teóricos, v. Habermas, 2009:129-183.
[45] V. Adorno e Horkheimer, Dialética do Esclarecimento, 1985, pp. 113-156.
[46] “Ao ouvirem as missas a cinco vozes de Palestrina na Capela Sistina, as autoridades da Igreja ficaram preocupadíssimas e tentaram aboli-las, pois a beleza ou o “feitiço” daquelas cristalinas sonoridades era de tal encantamento que os fiéis poderiam nem sequer prestar atenção ao conteúdo dos textos religiosos. Entravam em delírio psicodélico...”. Medaglia, Música, Maestro! Do canto gregoriano ao sintetizador. São Paulo: Globo, 2007, p. 9. Em sintonia com esse relato, José Miguel Wisnik demonstra como a história da música foi também, especialmente durante a Idade Média, uma história de “repressão do ruído”, isto é, de tudo aquilo que se opunha à busca por pureza e perfeição das músicas cantadas pelas capelas eclesiásticas. Os instrumentos de percussão, por exemplo, de origem africana, eram os principais alvos dessa repressão, o que se desdobrava em repressão em relação àqueles que os utilizavam em suas práticas musicais (Wisnik, 1999:32-58).
[47] V. Habermas, 2003a:189-212; V. também, numa perspectiva da economia política da informação, Bolaño, 2000.
[48] Para uma tentativa de abordagem deste intrincado tema, v. Blotta, V. The Fascination of Authority and the Authority of Fascination. Rationalization and Legal Theory in Habermas revised, 2010 (manuscrito). Paper aceito para apresentação em grupo de trabalho do XXI Congresso Mundial de Filosofia do Direito e Filosofia Social, que terá lugar em Frankfurt am Main, na Alemanha, em 15-20 agosto de 2011.
[49] Cf. Também a “Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais”, adotada por Conferência Geral da ONU para a Ciência e a Cultura em Paris, de 03 a 21 de outubro de 2005. In. Bittar e Almeida (orgs.) Minicódigo de Direitos Humanos. São Paulo: Juarez de Oliveira. Associação Nacional de Direitos Humanos – ANDHEP, 2008, pp. 623-632.
[50] Apesar da grande importância desse tema, que também toca o problema da expressão étnica e religiosa de grupos e indivíduos, ele não pode ser aprofundado neste estudo, que se concentra em questões teórico-metodológicas ligadas à educação em direitos humanos capazes de despertar a autonomia individual para a cidadania ativa. Não se nega, no entanto, que mesmo tomando-se consciência da importância do discurso estético-expressivo para esses fins, a inexistência de espaços institucionalmente garantidos que permitam sua realização e influência na esfera pública figura como um obstáculo correlato e inafastável a ser enfrentado. 
[51] “A degradação valorativa de determinados padrões de auto-realização tem para seus portadores a conseqüência de eles não poderem se referir à condução de sua vida como a algo a que caberia um significado positivo no interior de uma coletividade; por isso, para o indivíduo, vai de par com a experiência de uma tal desvalorização social, de maneira típica, uma perda de auto-estima pessoal (...) Portanto, o que aqui é subtraído da pessoa pelo desrespeito em termos de reconhecimento é o assentimento social a uma forma de auto-realização que ela encontrou arduamente com o encorajamento baseado em solidariedades de grupos.” (Honneth, 2003:217-218. grifos nossos). Um filme que demonstra claramente esse problema e pode ser utilizado em aulas a respeito do tema é Zelig (1983), de Woody Allen, que traz a excelente metáfora de um indivíduo cuja baixa autoestima e preocupação em não desagradar os outros o leva a assumir características físicas daqueles com quem convive.
[52] Essa perspectiva pode ser vista não somente nos trabalhos de Melanie Klein (1975), mas também em combinações de Freud e Lacan, como em Kehl (1995).
[53] Sobre essa importante relação a partir da psicologia analítica de Jung e relacionada à questão da arte que retratou as ambivalências das revoluções constitucionalistas, recomenda-se o belo ensaio de Lídia Reis de Almeida Prado, intitulado “Luz e Sombra na Gênese dos Direitos Humanos (Prado, L. 2010:355-369).
[54] Um dos resultados curiosos da primeira oficina do L’ArCA foi o comentário de um dos facilitadores após o final dos trabalhos. Impressionado com efeito terapêutico da oficina, chegou a dizer que sentia que se realizasse uma atividade semelhante toda semana, poderia parar de ir à sua terapia convencional.
[55] Sobre o espaço do jazz, da improvisação e das relações com o rock ‘n roll, pensado dentro ambigüidade entre “som e ruído” que seria constitutiva da música, mas que refletiria também processos de recalque e retorno de pretensões estético-expressivas, v. Wisnik, 1999:214-219.